Nome:
Localização: aaacarmelitas@gmail.com, Portugal

17 de julho de 2009

I JORNADAS DOS AAACARMELITAS

Na sequência da publicação do resumo da conferência do Rev Pe Geral, sabendo que a revista Família Carmelita já foi enviada, entendi que seria oportuno pôr à disposição de todos o texto completo da minha intervenção nas Jornadas, dado tratar-se de um tema muito importante e que vai servir de base às propostas de alteração dos estatutos da Associação. Assim, fica aqui o texto, aguardando contributos positivos para a alteração dos estatutos que terá lugar na próxima A. G. no ano de 2010, em Fátima. Bom proveito!
augusto pereira de castro
ASSOCIAÇÃO, QUE FUTURO?

INTRODUÇÃO

Quando, um dia, numa conferência sobre eventualidade de vida extraterrestre, o Professor Dr. Carvalho Rodrigues explicava a investigação dos humanos, dizia o seguinte: nós, os seres humanos, não conseguimos viver sozinhos e a solidão é o nosso inimigo maior, do qual fugimos todos a sete pés. Passamos a vida à procura de vizinhos, de pessoas com quem conviver, com quem estar, com quem partilhar as nossas experiências pessoais, o nosso saber, tudo, enfim, o que a nós diz respeito.
Procuramos pessoas que sintonizem com o nosso pensar, com quem nos sintamos bem, que nos aceitem no seu meio, pessoas com quem possamos formar comunidade e junto das quais nos possamos desenvolver, crescer e evoluir em todos os aspectos da vida da pessoa humana.
A vida de cada ser humano só é possível dentro de uma comunidade de conhecidos e de amigos, deles dependendo na sua vida pessoal.
As pessoas procuram vizinhos e assim se juntam em comunidades, assim procuram novos rumos para as sociedades, assim se desenvolvem em famílias, cidades, regiões, nações e organizações mundiais. Não conseguimos, de facto, viver sozinhos.
Mas, para além disso, cada ser humano e cada comunidade de seres humanos procura, incansavelmente, as suas origens, a sua Fonte. Como um companheiro de jornada da Associação dizia, há um ano, a propósito da procura de antigos marianos, “fui à procura das nossas RAÍZES”.
No fundo, se reflectirmos bem, é esta a linha de pensamento, mesmo que subconsciente, que preside às escolhas de cada pessoa, como às das organizações.
Seja por razão de evolução no campo da investigação científica, no campo do desporto, no campo do entretenimento, seja por razão da manutenção das recordações, das amizades criadas e vividas no passado, seja por razão de segurança, sabendo que juntos num grupo, sob uma qualquer bandeira, serão sempre mais fortes do que isoladamente, o certo é que, todos os seres humanos sem excepção procuram, de algum modo, maneira de estar associados ou ligados a outros, independentemente do laço que essa ligação revista.
São razões desta ordem que, na minha perspectiva, presidem à criação das organizações, sejam elas nacionais e oficiais, sejam elas particulares.
E quando nos debruçamos sobre uma organização em particular, podemos ver que ela surge quando o sentimento de necessidade de agrupamento para obtenção de um objectivo determinado começa a nascer na mente de muitas pessoas que se relacionam habitualmente entre si, ou que num determinado período de tempo se inter-relacionaram.
É num contexto desta natureza que apareceu o movimento que culminou na Associação do Antigos Alunos do Seminário da Ordem Carmelita em Portugal.


A ACÇÃO DO REVDº PE FREI CASIMIRO, O.CARM.

Nos anos 50, aquando da passagem da gestão do Comissariado para uma das províncias carmelitas do Brasil, veio para Portugal e para o Seminário Missionário Carmelita de Braga, o Revdº Pe Frei Casimiro Vloon, O.Carm.
Nele nasceu a ideia de continuar a manter contacto com os ex-seminaristas, para que não se perdessem os laços de família e de grupo que haviam sido criados com a permanência no “marianato”. E, se bem o pensou, melhor o fez.
Começou, logo a partir dos primeiros saídos, a procurar encontrar o seu paradeiro, para continuar a manter contacto com eles…
Nada ilustra melhor este modo de agir do Revdº Frei Casimiro do que o testemunho do nosso amigo e sócio da AAACARMELITAS, José Parcídio, quando afirma:

“Confesso que, apesar de todas aquelas dificuldades, fiquei triste por deixar o seminário. Nos primeiros tempos, lembrava-me muito do Frei Casimiro e Frei Servando, bem como dos ex-colegas. Talvez acabasse por esquecer ou, pelo menos, não andar por perto o meu pensamento mas, em Dezembro deste mesmo ano, por alturas do Natal (1953) foi com grande alegria com que recebi uma carta do Frei Casimiro. Abri apressadamente e retirei do seu interior uma pagela tipo A5, com o timbre do Seminário, escrita à máquina e começava mais ou menos assim:

VÍNCULO – 1 :Caro ou Prezado Parcídio:

Desejo que estejas bem de saúde que eu fico bem graças a Deus. Escrevo-te para saber o que é que é feito de ti, o que fazes e se todos os familiares se encontram bem. A finalidade desta folhinha, é de manter os ex-alunos que por aqui passaram, ligados à Mãe do Carmo e tentar criar um elo de ligação entre todos, bem como ir dando notícias do Seminário. Depois relatava o movimento dos seminaristas e clero, entradas novas, saídas, etc. e algumas coisas de rir. Dava alguns conselhos, pedia para nunca me esquecer da Mãe do Carmo e Jesus. Pedia para quando fossemos viver para fora da terra, lhe comunicássemos o novo endereço. Pedia também uma resposta e que lhe fosse contando a nossa vida. Terminava desejando as Boas Festas para toda a família em redor do menino Jesus. Claro que lhe respondi logo, dando notícias minhas.” (IN Vínculo II, 2001).
Os anos foram passando e o Pe. Casimiro foi construindo pacientemente a sua “base de dados” dos antigos alunos do seminário, procurando manter com eles contacto através de um boletim informativo que a todos enviava, com alguma regularidade e ao qual deu o nome de “Vínculo”.
Apesar de, nos primeiros anos, o número dos que o visitavam, isoladamente ou em grupo, ser reduzido, com o correr do tempo, este número foi aumentando, de tal modo que começou a acontecer, formar-se um número assinalável de antigos alunos e famílias que se encontravam na altura do fim do ano lectivo, no seminário, para confraternizar.
Com o andar dos anos, o António Silva começou a convidar alguns antigos alunos, para confraternizar com ele por altura do magusto. O movimento teve tanto sucesso que, a breve trecho, já eram mais de uma dezena os antigos alunos presentes. As coisas evoluíram a ponto de o Cruz ter desejado que o magusto passasse a ser realizado na sua casa em Viatodos, o que passou a acontecer até 1997, ano em que passou a ser na Casa da Mata, Felgueiras.
Além destes dois encontros começou a efectuar-se um outro encontro, desta feita, em Fátima e na Casa Beato Nuno, uns domingos antes da Páscoa. Tal como os anteriormente referidos, este também começou a juntar, cada vez mais antigos alunos.

A ASSOCIAÇÃO – SUA CRIAÇÃO E EVOLUÇÃO

Por volta de meados dos anos oitenta, começou a nascer a ideia da formação de uma associação, por se entender que seria o melhor modo de congregar aos antigos alunos carmelitas, pôr em prática ideias que alguns tinham e estavam com vontade de levar à prática, como por exemplo, apoiar os tempos livres dos jovens filhos dos associados, o apoio e entreajuda entre sócios, etc., para o que, a existência de uma organização legalmente constituída, seria o caminho mais adequado; também era considerada a melhor forma de dar continuidade à publicação do boletim que o Pe Casimiro tinha começado, o Vínculo. E, foi num encontro realizado em Fátima e ao qual compareceram muitos antigos alunos (a avaliar pelo número de sócios fundadores da Associação), que se criou a Associação dos Antigos Alunos do Seminário da Ordem Carmelita em Portugal, numa Assembleia-geral constituinte, tendo-se determinado que os presentes seriam todos considerados sócios fundadores e que nos estatutos seria feita referência obrigatória a este evento, tendo sido escolhidos os antigos alunos encarregados de preparar os estatutos para a criação oficial da Associação bem como os membros dos Órgãos Sociais da mesma.
A partir daí começaram a multiplicar-se as reuniões parcelares para a elaboração dos estatutos da futura Associação. E, no ano de 1991 foi feita em Braga, a Escritura Pública da criação da Associação dos Antigos Alunos do Seminário da Ordem Carmelita em Portugal. No encontro seguinte, que se realizou em Fátima, foram confirmados os órgãos sociais da mesma.
A partir desta altura, todos os encontros que, até essa data, se vinham realizando, de um modo pouco formal e, talvez, um pouco por iniciativa da Ordem, bem como a publicação do Vínculo, fiaram sob a responsabilidade da Direcção então eleita.
Contudo, quem continuou a tratar da composição, publicação e envio do Vínculo, foi o falecido Revdº Pe Frei Bernardo, O.Carm.
A partir desse encontro de Fátima e dessa Assembleia-geral, a realização dos vários encontros passou a estar subordinada aos estatutos. Assim, começaram a realizar-se, de forma regular, os encontros de que atrás falámos.
Os Órgãos Sociais em exercício até ao Encontro de 1993, em Fátima, cessaram funções, tendo sido eleitos outros sócios para a Direcção da Associação, ficando como representante da ordem do Carmo em Portugal, na direcção, o Revdº Pe Frei Francisco José Rodrigues, sendo que passaram para o mandato seguinte, os membros da Mesa da Assembleia-geral e do Conselho Fiscal, do mandato anterior.
A partir desta altura, a nova direcção teve de assumir a publicação do Vínculo II, para além de continuar assegurar os compromissos existentes e decorrentes dos Estatutos, publicados em 1991.
Animada por um espírito novo, com vontade de imprimir uma dinâmica maior à Associação, a nova direcção procurou renovar e enriquecer o Vínculo, com novas rubricas e artigos, enfim, um Vínculo II numa nova imagem. Procurou, ao longo dos anos, dar uma nova vida à Associação, tentando realizar acções que, de algum modo, animassem a vida Associativa, tendo, é certo, sempre presente, as características muito especiais desta, uma das quais é a dispersão nacional dos sócios, o que constitui factor limitador da realização de qualquer evento.
Contudo, com o andar dos anos, começou a verificar-se uma diminuição de presenças nos eventos organizados, bem como uma diminuição progressiva do número de sócios que continuavam a pagar as suas quotas, a ponto de, actualmente, só uma quinta parte dos sócios comparecer e pagar as suas quotas.
E, não fora a continuada presença do representante da Ordem do Carmo na Direcção, o Revdº Pe Frei Francisco José Rodrigues, O.Carm. animando-a com o seu entusiasmo e disponibilidade permanentes e já esta, por certo, não existiria. Ele tem sido, ao longo dos anos, a energia motora e o espírito que tem mantido de pé esta organização, pois não fora a presença dele e já a associação já não estaria viva.


A ASSOCIAÇÃO – PRINCÍPIOS E FINS

A Associação dos Antigos Alunos do Seminário da Ordem Carmelita em Portugal é uma organização sem fins lucrativos que “não tem carácter político, regendo-se por um rigoroso respeito pelo pluralismo ideológico, cultural e religioso dos seus membros” (artigo 3º dos Estatutos).
Dizendo, embora, reger-se por um rigoroso respeito pelo pluralismo ideológico, cultural e religioso dos membros da organização, este princípio, que até consta de quase todos os estatutos das organizações nacionais actualmente existentes, é ele próprio, a expressão de uma posição filosófico-ideológica conhecida.
Este artigo mostra-nos que houve um grande cuidado em não misturar as águas, principalmente pelo facto de se tratar de uma organização, cujos membros tinham frequentado o seminário de uma ordem religiosa/católica e, em grande parte, se teriam já distanciado dos princípios e linhas orientadoras que norteavam a formação que receberam. Tal pressuposto poderá ter aqui, a meu ver, o seu principal fundamento.


OS FINS DA ASSOCIAÇÃO

São fins da Associação:
a) Promover a solidariedade entre todos os associados através do apoio e entreajuda mútuas no plano social, profissional e cultural, de acordo com as possibilidades e necessidades manifestadas pelos associados;
b)Promover encontros regionais e nacionais capazes de proporcionar espaços de confraternização cultural e de recreio entre associados e seus familiares, em ligação com a Ordem Carmelita;
c)Promover ocupação de tempos livres para os jovens, filhos de associados;
d)Manter laços estreitos de trabalho e cooperação com a Ordem Carmelita, quer divulgando a sua obra quer apoiando-a em iniciativas onde as estruturas da Associação se revelarem úteis;
e)Concretizar anualmente o encontro de todos antigos alunos, quer sejam sócios, ou não.
Propósitos como estes, consignados em estatutos, são óptimos objectivos a prosseguir desde que as organizações tenham bases de sustentação capazes para os levar a bom porto.
Uma organização como esta Associação, à partida, não parecia reunir condições para promover tais desideratos, a começar pelo da solidariedade. É que, promover a solidariedade implica ter meios para o fazer, ter capacidade para fazer levantamentos de necessidades individuais e colectivas ou grupais. Como intenção e propósito teórico, entendemos ser aceitável, mas não exequível a sua prática. Os associados não residem na mesma localidade nem em localidades próximas umas das outras, vivem espalhados por todo o território nacional e até no estrangeiro; o acesso, mesmo a nível postal ou telefónico, não é tão fácil como possa parecer, exige um esforço de investigação acima da média, é de difícil concretização, tornando impraticável atingir os objectivos propostos. Por outro lado, o objecto “solidariedade” aqui, entende-se como sendo da organização e nunca das pessoas singulares que a integram.
Constituindo os encontros regionais um propósito louvável e que poderia ser de fácil execução, a sua concretização prática foi, em dois episódios, possível, sendo que segundo teve um final pouco feliz. A ligação com a Ordem Carmelita, como pressuposto na efectivação de tais encontros, é de suma importância, dada a natureza da Associação, mas, confesso, pode criar, naturalmente, fricção, com o princípio do “pluralismo ideológico, cultural e religioso”, atendendo a que tal ligação implicará sempre uma certa relação com a Espiritualidade Carmelita e suas manifestações práticas.
“Promover a ocupação de tempos livres para os jovens, filhos do associados” . Este desiderato aparece como algo louvável, desde que os associados residissem relativamente próximo uns dos outros, de modo que permitisse que, qualquer iniciativa da Associação pudesse ser partilhada pelos eventuais filhos dos associados. Assim não sendo, como de facto não é, este propósito unicamente pôde ser levado á prática, durante os encontros em que os associados se faziam acompanhar pelos seus filhos, ou outros jovens familiares. Contudo, o tempo veio a mostrar que, cada vez menos jovens acompanhavam os pais aos encontros dos Antigos Alunos ou, dizendo de outra maneira, cada vez menos antigos alunos com filhos, apareciam nos encontros, ficando os jogos e outros materiais sem qualquer préstimo. Não nos parece, pois, que um tal objectivo devesse integrar os objectivos desta Associação. Pelo menos nos moldes em que se encontra formulado.
E chegamos local dos objectivos em que se propõe uma colaboração estreita com a Ordem Carmelita (Manter laços estreitos de trabalho e cooperação com a Ordem Carmelita, quer divulgando a sua obra quer apoiando-a em iniciativas onde as estruturas da Associação se revelarem úteis;).
É verdade que durante todos estes anos se manteve uma ligação sempre grande com a Ordem Carmelita, até porque um dos membros da Direcção é um sacerdote da Ordem, ligação essa que se veio traduzindo por um acompanhar da vida da Ordem nas suas variadas manifestações e celebrações.
No que à divulgação da sua obra se refere, apesar da boa vontade dos membros da Direcção e da sua participação em muitas das acções realizadas pela Ordem, pouco se evoluiu, para além do que se publica no “Vínculo II” e no Blog da Associação.
Porém, antes de pensar em manter estes “laços estreitos de trabalho e cooperação com a Ordem Carmelita” importa saber o que é esta Instituição, qual “o seu Carisma e Missão, bem como quais as suas características fundamentais”. Só sabendo tudo isto em pormenor e estando bem conscientes da natureza destas características, é que a Associação pode predispor-se para o cumprimento deste desiderato dos estatutos.

A Verdade é que:

A ordem do Carmo, como rezam as Constituições actualmente em vigor, é uma Instituição cujos membros se propõem “Viver em obséquio de Jesus Cristo e servi-Lo fielmente com coração e consciência recta” (Regra, Prólogo)… Os Carmelitas vivem o seu obséquio a Cristo, empenhando-se na busca do Deus vivo (dimensão contemplativa da vida), na fraternidade e no serviço(diakonia) no meio do povo (nº14 das Constituições).
”Com efeito, desde as origens, a comunidade dos carmelitas adoptou um estilo contemplativo, tanto na estrutura como nos valores fundamentais. E tal estilo ressalta evidente da Regra. Ela delineia uma comunidade de irmãos, toda dedicada à escuta orante da palavra e assídua na celebração do louvor do seu Senhor; uma comunidade composta por pessoas que querem deixar-se modelar e habitar pelos valores de espírito: castidade, pensamentos santos, justiça, amor, fé, espera da salvação, trabalho feito na paz, silêncio que, como afirma o profeta, é o culto da justiça e dá sabedoria às palavras e ao agir, discernimento, que é “guia das virtudes” (16).
E, o exercício da contemplação “não só é fonte da… vida espiritual, como também determina a qualidade da vida… fraterna e do… serviço dos carmelitas no meio do povo de Deus” (18).
Pelo que, “a atitude contemplativa para com o mundo em torno dos carmelitas, que os faz descobrir Deus presente nas suas experiências quotidianas, leva-os a encontrá-Lo especialmente nos seus irmãos. Assim, são levados a valorizar o mistério das pessoas que lhes são próximas e com as quais compartilham a sua vida. A sua Regra quer que sejam acima de tudo “fratres” e recorda-lhes como a natureza das referências e das relações interpessoais, que caracterizam a vida da comunidade do Carmelo, se desenvolveu no exemplo inspirador daquela primitiva comunidade de Jerusalém. Ser “fratres” significa para eles crescer na unidade, na superação das distinções e privilégios, na participação e na co-responsabilidade, na partilha dos bens, num projecto comum de vida e dos carismas pessoais; significa, também, amadurecer atitudes de atenção ao bem-estar espiritual e psicológico das pessoas, percorrendo os caminhos do diálogo e da reconciliação” (19).
Para além desta dimensão “como fraternidade contemplativa, buscam o rosto de Deus também no coração do mundo. Crêem que Deus fixou no meio do seu povo a sua morada, e por isso a fraternidade do Carmelo sente-se parte viva da Igreja e da História: uma fraternidade aberta, capaz de escutar e fazer-se interpelar pelo próprio ambiente, disposta a acolher os desafios da história e a dar respostas, autênticas de vida evangélica com base no próprio carisma, solidária e também pronta a colaborar com todos os homens que sofrem, esperam e se empenham na busca do Reino de Deus” (21).

Passamos agora, para o último objectivo da Associação que é “Concretizar anualmente o encontro de todos antigos alunos, quer sejam sócios, ou não”.
Sendo que, anualmente, se realiza a Assembleia-geral (que, em meu entender, deveria ter lugar na Sede Social da Associação - Seminário Carmelita do Sameiro, Braga), que dá também lugar à concretização de um encontro nacional, entendo ser duplicação desnecessária de eventos, a realização de um encontro especificamente para todos os antigos alunos. Além do mais, esta alínea repete o que outra anteriormente dizia sobre encontros regionais e nacionais.

Os objectivos que acabámos de revisitar merecem-nos alguns comentários:
Numa organização como a nossa, a promoção da solidariedade entre os associados deveria privilegiar mais a parte psicológica e espiritual, do que a parte material [como diz o ditado oriental – não dar o peixe mas sim ensinar a pescar], pois o espírito positivo e o optimismo, mesmo no meio das dificuldades, é uma fonte de energia que tende a contribuir imenso para se encontrar o caminho de solução para os problemas que, ao longo da vida, por vezes encontramos. A dispersão geográfica dos associados pouco ou nada ajuda à concretização de qualquer outro tipo de ajuda e, se nos ativermos ao plano financeiro, esse só seria possível se a nossa Associação tivesse um património financeiro que pudesse servir de base a um tal desiderato. Considerando que a nossa Associação nem dinheiro tem para pagar as despesas correntes, tendo de ser os membros da Direcção a custeá-las, fácil se torna concluir pela inviabilidade de um propósito como o que acima se enuncia como objectivo da Associação.
No aspecto cultural, pode haver conferências e outros eventos passíveis de ser frequentados ou participados por antigos alunos; contudo, desconhecendo as apetências culturais dos associados torna-se um tanto arriscado avançar com acções a este nível.
No plano profissional, houve sempre ao longo dos anos, disponibilidade de entreajuda, até pelo facto de haver associados a exercer profissões que proporcionavam facilidade de apoio a quem o solicitasse. Tal apoio, contudo, era sempre dado a qualquer antigo aluno independentemente de ele ser sócio ou não e era prestado ao próprio ou a qualquer pessoa de família ou amigo que fosse apresentado.
No que aos encontros diz respeito, as tentativas de realizar encontros regionais, nem sempre foram bem sucedidas e, mesmo nos nacionais, foram progressivamente tendo cada vez menos participantes, o que vem acarretando problemas para a Direcção que os organiza, dando origem a um processo de desmotivação progressiva, o que poderá passar a levar à realização de um único encontro por ano e que inclua a realização da Assembleia Geral anual. É uma posição pessoal que entendo perfeitamente aceitável, tendo presente que a realização de qualquer encontro é sempre dispendiosa, ultrapassando significativamente as receitas da Associação.
Além disso, interessante verificar que, quando se fala de encontros regionais e nacionais, refere-se “em ligação com a Ordem Carmelita”, condição que já não é referida para a realização do encontro anual dos antigos alunos quer sejam sócios ou não.
No que se refere aos tempos livres dos filhos e netos dos associados, é algo que é de difícil realização, pois o número dos jovens que apareciam ficou reduzido à ínfima espécie, ou zero absolutos.

Propostas e sugestões:
Todo o movimento tendente a reunir antigos alunos de qualquer Instituição, deverá, em nosso modesto entender, ter sempre em atenção, a formação recebida durante o tempo em que privaram na convivência e nos estudos, bem como os princípios que norteavam a Instituição onde estiveram, por vezes durante muitos anos. E, se a memória do tempo passado é algo que permanece no interior de cada um, só deveriam vir à tona os aspectos positivos dessa vivência, nunca os aspectos negativos que, por vezes, possam ter recheado a vida dos antigos alunos. Tais aspectos, deveriam ser sempre interpretados como momentos de crescimento e integrados na vida de cada um, sem qualquer ressentimento contra terceiros, pois que, das experiências vividas no passado, foram incomparavelmente mais as que nos beneficiaram e ajudaram a crescer e a evoluir, do que aquelas que, aparentemente, e só mesmo aparentemente, nos prejudicaram.
Ao criar uma associação aglutinadora de antigos alunos de uma mesma instituição, além de afirmar solenemente o rigoroso respeito pelo pluralismo ideológico, cultural e religioso dos seus membros, deveria enunciar, também, como princípio, o reconhecimento dos valores que norteiam a Instituição a que se sentem ligados, nas suas raízes, estabelecendo como pressupostos, os mesmos princípios em que assenta essa Instituição. No nosso caso, deveria constar nos princípios da Associação que esta assenta nos mesmos princípios que são a base da Ordem Carmelita (Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo) e a que acima nos referimos. Só assim é que se poderá compreender o objectivo dos actuais estatutos:
“Manter laços estreitos de trabalho e cooperação com a Ordem Carmelita, quer divulgando a sua obra quer apoiando-a em iniciativas onde as estruturas da Associação se revelarem úteis”.
E, baseada nestes pressupostos, deveria ter como objectivos:
- Divulgar por todos os associados e outros antigos alunos, a maneira como os Carmelitas vêem a realidade da vida humana e a sua relação com a sua Fonte Divina, procurando uma adesão cada vez maior à espiritualidade carmelitana.
- Localizar todos os antigos alunos, registando todos os elementos possíveis, para os ter sempre contactáveis.
- Procurar desenvolver a solidariedade psicológica e espiritual entre todos os antigos alunos, promovendo a entreajuda informativa, nomeadamente nos planos social, profissional e cultural, tendo presente as capacidades, possibilidades e necessidades manifestadas por todos os antigos alunos, sem excepção.
- Editar um boletim, jornal ou revista, com novo visual e de acordo com as possibilidades da Associação, na qual, para além de aspectos lúdicos, se desenvolvam os temas atinentes ao que se referiu nas alíneas anteriores, publicando até artigos de fundo que ajudem a resolver os problemas que vão surgindo ao longo da nossa caminhada terrestre. (E entre os antigos alunos há muitos especialistas nas mais variadas áreas, que podem dar o seu precioso contributo aos outros irmãos que, no passado, com eles privaram).
- Realizar um encontro nacional de todos os antigos alunos e/ou confrades da Ordem do Carmo em Portugal, em local a designar pela Direcção, tendo sempre presente as raízes de muitos dos antigos alunos.
-Proporcionar activamente a possibilidade de, no seu interior, se criarem e desenvolverem grupos formais de reflexão sobre os valores fundamentais da vida humana e da espiritualidade carmelita, fundamento real da existência desta Associação.
-Diligenciar para que esta Associação se torne efectiva e oficialmente parte integrante da Família Carmelita, tal como Ela é descrita no número 28 das Constituições da Ordem e que, como tal, seja reconhecida por todas as outras entidades que fazem parte da Família Carmelita planetária.
- Divulgar a espiritualidade e a obra da Família Carmelita, na sua totalidade, pela palavra, pela promoção do exemplo de vida dos seus associados e pelos eventos que possa vir a realizar.

E concluo
Agradecendo a paciência com que escutaram esta viagem pelo paraíso de uma organização ligada à Ordem Carmelita, mas bastante longe dela no espírito que a informa, desejando dizer que não sintonizo a filosofia que subjaz à Associação a cujos destinos me fizeram presidir (e nisto estou acompanhado por toda a Direcção), não só por tudo o que acima disse, mas também, porque uma Associação do género desta, ou assenta em princípios e práticas que tenham a ver com o destino espiritual e cósmico das pessoas que dela fazem parte integrante como associados, reestruturando as suas bases teóricas e a sua relação com a Família Carmelita de que deve fazer parte integrante, ou então encerra a sua actividade.
Estas jornadas têm como objectivo reflectir sobre o futuro da Associação. Aqui, expusemos algumas linhas de orientação conducentes à reestruturação dos Estatutos e à mudança radical de rumo desta mesma Organização.
Tal desiderato só poderá ser concretizado se a maioria dos sócios, no pleno exercício dos seus direitos estatutários, assim o decidir. (E eles são 42).
A nós compete-nos afirmar que não continuaremos a dirigir uma organização nos termos e nas condições em que esta tem vindo a ser obrigada a funcionar.
Espero que todas estas reflexões sirvam para que esta nossa associação ressurja num movimento ascendente imparável, como estrela luminosa num mundo tão perturbado pela falta de pensamento positivo e de iluminação interior, para que a Família Carmelita, ainda mais apoiada pelo nosso Irmão Lusitano Maior, Nuno Álvares Pereira, cresça e seja, a cada dia que passa, factor de crescimento interior e de solidariedade plena para com os Irmãos que mais necessitam de aprender a pescar.

Que a Paz e o Espírito de solidariedade residam sempre dentro de todos nós.

DISSE !

7 Comments:

Anonymous Mário Neiva said...

Nem me passa pela cabeça que alguém vá aos encontros do Sameiro ou de Fátima para beber uns copos ou comer uma jantarada. Se alguém faz isso, nao sabe fazer contas. Ficava-lhe muito mais em conta almoçar perto de casa e até nem ficaria pior servido. Ao comer as tripas do Evaristo ou ao provar o nectar do Emidio, estava a mastigar e a beber-lhes a alma. E como saboreei aquela mística refeição!
Por isso peço a quem escreveu, que me explique o que quer dizer com isto: «Numa organização como a nossa, a promoção da solidariedade entre os associados deveria privilegiar mais a parte psicológica e espiritual, do que a parte material».
Ai, ai, ai! Muito se gosta de dividir o homem em duas partes. Por favor, deixem-me inteirinho, pelo menos enquanto respirar.
Garanto-vos: há muito tempo que não bebo um copo de vinho ou como uma sardinha assada, como se fosse simples animal. A comer ou a pensar nunca me aparto da minha condição. E se o fizer, será por distração.
O que eu quero dizer com este palavreado todo é que comer, beber e brincar é tão «espiritual» como rezar.Fazê-lo em comum e em alegria é fonte da solidariedade que se invoca no texto.
E para aqueles que vão à missa todos dias: «quer comais quer bebais, fazei tudo em nome do Senhor».
Já cá faltava a palavra do Apóstolo...

18 julho, 2009 07:12  
Anonymous jorge dias said...

Oi caríssimos e meu caro Mário,

Confesso que até tenho andado arrepiado desde o encontro de Fátima a pensar , no que me parece ser uma "acefalia", esta a da transformação desta aaacarmelitas numa "correia de traansmissão" (sic) da Ordem do Carmo.
Saibamos, tenhamos coragem de ler e perceber a história.

De uma vez por todas: não somos nós que estamos mal. É a Ordem do Carmo quen se perdeu no tempo e no tempo que lhe demos e dela fomos parte, não nos soube envolver e incluir. E podeis crer que tudo farei, para, letra a letra, pegar neste blog e o colocar em livro e evidência.

Isto mesmo e muito mais comunicarei brevemente ao Revdo Pe Geral de quem, em Fátima, me fiz amigo.

Todavia, encontro na ideia de refundação da Ordem do Carmo, um espaço de razão de ser e viver da minha vocação de homem e de crente, bem como da sua recusa pela minha compreensão das "coisas", nos idos de 1968, quando simbolicamente usei o hábito pekla última vez.
Mas, entendamo-nos, não pela Ordem, mas pela aberração do paradigma.

O problema é que a Ordem continua a querer seguir seguir um paradigma medieval.

Meu caro Augusto, não estamos aqui, hoje e agora, para seguir e amar o que está mal. Hoje e agora, como, e muito bem, Rosalino Durães gosta de dizer, para seguir a força do Espírito Santo que sopra em cada cabeça. Repito, em cada cabeça, não é caro Mário? Sopra e impele e ou impede!?

Faz parte do entendimento que a minha vida depois de ter saído da Ordem do Carmo me tem vindo a revelar desde há mais de 40 anos, que saindo, fiquei. Que não me tendo manifestado logo, só encontro nestes diálogos, hoje, uma razão, dar à Ordem do Carmo um novo paradigma, o paradigma da sua refundação, o paradigmaa do serviço do evangelho, da boa nova. Recuso-me a aceitar que a minha saída da Ordem não tenha sentido. Sempre estarei com outra Ordem do Carmo.

23 julho, 2009 01:11  
Anonymous jorge dias said...

Em pequenos textos para maior facilidade.
Meus caros,
Hoje sou mais carmelita que jamais. Creio mesmo que hoje estou mais ao serviço da "boa nova" (evangelho) que em alguma altura do meu passado. Acontece que hoje, sou muito mais incómodo, muito mais provocante, mas também muito mais pro-activo ao serviço da boa nova, declaradamente, arrogantemente e de frente e com recurso a linguagem de choque que durante anos me abstive de utilizar, quaisquer que sejam os aspectos humanos envolvidos.

Isto para vos dizer o seguinte:

1. A orientação básica da aaacarmelitas, tal como está. em minha opinião, não deve ser alterada.
2. Há muito que para alguns aas, nos quais me incluo e, julgo que, pelo menos alguns dos que estivemos em Fátima, também se gostariam de incluir. Mas incluir em quê? Numa estructura muito ampla e de reflexão, e porque não de alguma vida, como a que fizemos em Fátima, de base espiritual, e que venha a ser parte da reflexão necessária à refundação da Ordem do Carmo. Pois, se não concordem com refundação chamem-lhe contributos, o que quiserem, para uma Odem do Carmo moderna. Smpre tereis que peceber, os que neste grupo se incluirem, que, em perpectiva do plano de Deus para cada um e para a humanidade, não saímos da Ordem por acaso, mas porque outra era a nossa missão. Porque haveríamos de voltar agora sem nenhua mais valia?

Não contem comigo para este funeral e para esta perdda de tempo.

Fátima, assembleia geral, foi um sinal deste novo paradigma, até para o Revdo Pe Geral que se referiu à nossa festa de amor com palavras incomuns... Vou na refundação...

Perante uma Igreja manifestamente obscena e prostituida, onde o reencontro com a boa nova de Jesus se revela quase impossível, perante uma Ordem do Carmo no mundo,claramente perdida, onde os núcleos de amor ao irmão, felizmente ainda existentes, mas diminutos e nem sequer evidenciados, não devemos abanar com a cabeça um sim tonto e acéfalo. Devemos sim, criar desafios, provocações, estímulos, espaços de amor e de evidência da boa nova... Onde? Não sei... mas em espaçao de reflexão, crescimento espiritual e amor. Nunca por nunca correia de transmissão. Pelo contrário, devemos ser factor de provocação e reflexão... entre nós, como aqui e ali tem sido óbvio, de muita camaradagem e amizade e o acréscimo será o resto.
A todos um abraço de futuro...

23 julho, 2009 01:46  
Anonymous Mário Neiva said...

A refundação
Eu só não vou inteirinho pela «refundação» do Jorge por causa do palavrão em si, carregadinho de ressonâncias revivalistas. Mas apanho-lhe a ideia, até porque o próprio Jorge não dá lá muita importância ao nome que se chame à "coisa". E "coisa" é, nem mais, o encontro na fraternidade humana. E, por favor, não venham dizer que a esta «fraternidade humana» falta água benta pela cabeça abaixo. É tempo de sermos verdadeiros. E «provocadores», como diz o Jorge. Não podemos num dia dizer que o ser humano é o «rosto de Deus» e noutro dia dizer que temos de nos afastar do mundo dos homens para «contemplar Deus». Deixemo-nos de truques, como fazem os políticos, e sejamos coerentes e honestos.
O cristianismo e a sua mensagem de fraternidade entranharam-se na humanidade e geraram os «direito do homem». Não queiramos nós, aqui e agora, baralhar tudo e apregoar que o que faz falta são os "direitos dos anjos". Ou coisa parecida. Como ponto de partida para uma reflexão digna e proveitosa, proclamemos a dignidade humana como valor supremo; e a fraternidade como a praxis exaltante. Para quem for fervoroso crente, basta que se lembre-se de que o rosto de cada homem ou mulher é o rosto de Deus. Os budistas e afins vão mais longe e dizem que nós e o universo somos o próprio Deus. São Paulo, mais comedido, diz aos cristãos que somos apenas (e não é pouco!) seus filhos em Jesus Cristo, por Ele e com Ele. E, para que não restem dúvidas, se somos filhos, diz Paulo, somos herdeiros dos «dons divinos», ou seja, da própria vida divina.
Porque se complica o que é escandalosamente simples e verdadeiro?
Será que estamos á espera «da última moda» para sermos fraternos? Se é esse o caso, comecemos já a inventá-la. A nossa associação de aaa seria um bom começo. Mas temos que deixar de pensar que somos «fradinhos falhados» ou leigos arrependidos. Somos pais e avós, num convento sem hábito ou horas canónicas e sem o folclore de rituais antigos, que foram a manifestação genuína da fé dos que nos precederam. As ordens religiosas foram um abanão na dormência cristã. Fizeram o seu papel e estão em vias de extinção. Ou alguém tem dúvidas disso? Mas o que se extingue é «a moda» e não o tempero transmitido ao caldo humano, o amor-sal-da-terra.
Penso, muito honestamente, que o papel dos actuais frades carmelitas de profissão deverá consistir em fazer a “passagem do testemunho”. Não a «passagem» do hábito e de uma «regra» que nós já recusamos na juventude.
Se entenderem daquela forma a sua missão, nós, as nossa mulheres, os nossos filhos e os nossos netos seremos a «menina dos olhos» de um surpreendente “ideal carmelita” para este inicio do século XXI.
Estes últimos carmelitas serão como o sal do Evangelho e verão a «sua ordem» diluir-se na humanidade. Bem se poderá dizer que perderão a Ordem para a salvar. O sal dilui-se na água, mas fica lá todinho!
Mas estou bem consciente que a ideia da morte causa arrepios…É humano. E então a fé?

23 julho, 2009 09:18  
Anonymous jorge dias said...

Caríssimos, os arrepios não são provocados pela ideia da morte...

A ideia da refundação é uma óbvia redundância...

A ideia de base é a do carisma da Ordem do Carmo. Meu caro Mário, penso que é das coisas que mais falta faz hoje à Igreja, a esta Igreja, enfim, sem adjectivos, hoje. Deixo aqui comentário que acabei de colocar em outro lugar, dado que foi pensado para aqui.

Caríssimos,
por mim concordo em absoluto... com desafio de uma nova Ordem e empenho, só que não sei como nem quando e, por conseguinte, por onde começar nem com o que começar nem tão pouco com quem partilhar este desafio. Porque até prova em contrário estamos em espaço de liberdade e, por isso, de livre adesão. E, todavia, quem não aderir, não deixa, por esse facto, de ser aacarmelita. Por ser gente, mas também por ser aacarmelita, e por isso mais integrado...
Tinha idealizado um comentário para outro lugar... eis senão quando me deparo com este desafio que, como é óbvio, é o que tenho andado a fazer há mais de 4O anos. Afinal, que tenho andado eu a fazer senão de carmelita no "século"? Quem neste espaço disse "carmelita um dia carmelita toda a vida" fui eu.
Sendo este o desafio é natural que tenhamos que dar às coisas o seu real e moderno sentido porque isto de afirmarmos que "zelo e zelarei pelo senhor Deus dos exércitos" é uma enorme provocação dado que se usa uma linguagem histórica sem cuidar de a ler em linguagem de hoje. Eu notei que a citação foi incompleta e apenas sugerido o restante. Todavia, um acto desnecessário... falar de exércitos quando em mil e um "lugares" citáveis se poderia falar do desafio do amor e da boa nova, única razão de ser desta Ordem nos tempos passados e, se quisermos adaptar-nos, e isto concedo contra outras opiniões, hoje também, ao serviço da boa nova, porque isto e só isto é a Igreja de que somos membros e justificará a sua e nossa xistência (carmelita).

Como dizia o nosso irmão e Pe Geral em Fátima, contemplativos, proféticos e como irmãos de Maria. Os dois ilustres comentantes doutro espaço estiveram lá.

Caríssimos, não há mais caminho nenhum!

Contemplativos, proféticos (o dom do profetismo) e irmãos da Bem Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo. Eis o carisma! Repito, eis o carisma, eis a nossa marca, a marca dos carmelitas calçados. O slogan citado nem é nosso. Sem ofensa, é dos outros carmelitas, os descalços.

A Igreja de que somos parte precisa de nós como do pão para a boca. A humanidade precisa de nós. Mas noutra onda, na onda da boa nova, ou simplesmente de homens, como os nossos irmãos no Carmelo fizeram noutros tempos. Precisa da contemplação e descoberta e adequação desta boa nova aos nossos dias e nesse exercício precisamos urgentemente do exercício do dom da diferença e da provocação, o exercício do dom do profetismo, e tudo isto feito com Maria, a primeira, com outras mulheres a ir ao sepulcro, e a quem o anjo envia:"Ide...".

Eis o caminho, criar ambiente para irmos à missão, deixar que as emergências do "E"spírito ocorram e dar-lhes forma, mantendo o espaço dos que querem ser o que já são e tentar descobrir a vanguarda, mais provocante ainda, mas único espaço possível para o profetismo carmelita, ou para a Ordem do Carmo, hoje, e com seu exercício, mais adesões (vocações). Tudo o que se afastar deste eixo não é Ordem do Carmo. Contemplação, profetismo e irmãos de Maria. Claro que leio a postagem e os comentários como um desafio, uma provocação de militância.

Obrigado pela provocação para o exercício do profetismo.

26 julho, 2009 17:26  
Anonymous jorge dias said...

Amigos,
Releio o texto anterior do Mário subordinado ao tema "Refundação" e agora, um pouco mais distante, verifico que o meu comentário anterior não se enquadra com ele tanto quanto devia, não obstante a ideia de fundo seja rigorosamente a mesma: ser carmelita hoje. Foi pensado em outro contexto. Devo, no entanto referir, que o último comentário do Mário, para usar uma linguagem que entendemos, é eminentemente profético e como tal de uma violência e clareza exasperantes, mas também provocantes.Muito poucas vezes vi alguém escrever sobre este problema, que vivo, com uma clareza tamanha que suplanta tudo que pudera imaginar ou escrever. Em simultâneo deixa-nos escncarada a porta do futuro, que construiremos...

30 julho, 2009 00:56  
Anonymous Mário Neiva said...

Não podem imaginar (ou podem mesmo) como é gratificante ver como somos compreendidos. Penso que o Jorge foi direito ao coração das minhas palavras. Por tudo o que já leu de mim e há-de continuar a ler, aqui, entenderá que todos deixamos para trás (todos?)um capítulo lindo das nossas vidas, que não se evaporou em puras lembranças da juventude, antes permanece em nós como pedaço vivo e integrado, de uma forma ou de outra, no nosso pensar e sentir para a eternidade desta vida (Não penso que haja "outra" eternidade para "outra" vida. A fé de cada um resolva o paradoxo!).
Não vale a pena tentar escamotear. Volto a repisar: sejamos verdadeiros com nós mesmos. De facto, a nossa juventude acompanhou-nos até aos dias de hoje, e nós
sentímo-la dentro de nós: seja para maldizer sofrimentos fatais, de percurso; seja para emocionarmo-nos até às lágrimas, revendo os nossos antigos condiscípulos já feitos maridos, pais e avós; seja renegando a crença ou firmando-a mais ainda.
Tenho encontrado de tudo entre os AAA. Tem sido um verdadeiro "encontro", porque a todos abraço sem preconceito. É o companheiro da juventude. com quem partilhei, muito ou pouco, anos da minha vida, que tenho nos meus braços e sempre trouxe num cantinho do coração. E aqui vão permanecer, todos, para sempre, amando-os ou fazendo por esquecê-los lutando contra mim próprio. (Repito: não me perguntem o tamanho daquele «sempre». Se estiverem em dificuldades, apelem à fé de cada um).
Se à distância de um blog eu já revolvera e revivera esse passado, o encontro total, (que devemos sempre procurar «para que a nossa alegria seja completa»), no Sameiro 2009, foi a prova provada de tudo o que acabo de vos dizer. Só ali estavam amigos, vidas entrelaçadas por um milagre do acaso da vida. Como se fossemos apenas CORAÇÃO (prefiro, em vez da "desgastada"alma).Não se vislumbravam crentes, ateus, agnósticos ou filósofos; não se viam clérigos (significativamente sem a veste talar) ou leigos; muito menos «carmelitas» e os «outros». Era como se a história tivesse perdido a sua linearidade e vivêssemos um tempo sem tempo, e em que a única voz, em cantos maviosos do Verão calmo de Junho, era a voz do CORAÇÂO.
Por tudo isto, e em coerência comigo mesmo, numa altura em que se pergunta qual vai ser a orientação a dar aos Estatutos da AAAcarmelita, proponho que se mantenha a pluralidade total no que respeita ao pensar e sentir dos seus membros efectivos e dos que venham a junta-se à nossa Festa. Porque é disto que se trata quando nos juntamos para celebrar a AMIZADE. A FRATERNIDADE, se acharem mais bonito. O AMOR, se estiverem apaixonados.
Se o último gesto, dos que possam vir a ser os últimos frades carmelitas, for de apaixonado incentivo à emergência de realizações sublimes como esta, sentir-se-ão, na sua opção de vida, tão cheios de plena alegria como cada um de nós sabendo que as “nossas casas” são também a Vossa Ordem. Plural, porque necessariamente humana. E digo "plural", para desgosto de quem sabe que me estou a dirigir directamente a ele, por defender a filosofia do UNO...Lá tinha que vir a provocaçãozinha. Mas que hei-de Fazer? Fico todo contente só de pensar que quando abraço a minha mulher não me estou a abraçar a mim próprio!
E deixem-me confessar-vos: se esta minha filosofia assente na afirmação absoluta da «pessoa» for, no meu pensamento, uma herança do cristianismo em que me criei, vou gritar aos quatro ventos: bendita criação!
Que maravilhoso sermos MUITOS e não UM SÓ, a ponto de podermos afirmar, sem engano e sem mentir: EU e TU. NÓS somos e nos mamamos.
E os cristãos que me criaram levaram esta loucura de pensamento à própria divindade: «TU és meu Filho, EU hoje te gerei». E depois ELE, o AMOR, é a coroa daquela «relação». Também lhe chamam Espírito Santo, e pleno de personalidade…E aqui é que as coisas ficam mais complicadas: Eu e o meu filho, duas pessoas, tudo bem. Que o amor entre ambos adquira também estatuto pessoal, só mesmo para uma fé extra…
O meu abraço a todos, especialmente ao Jorge que motivou este meu texto e, sobretudo, por me ter compreendido.

30 julho, 2009 08:53  

Enviar um comentário

<< Home