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4 de junho de 2009

ENCONTRO ANUAL DE ANTIGOS ALUNOS

Como a mensagem aqui reproduzida se destina a todos os antigo alunos, entendo ser este lugar, um espaço apropiado para o divulgar para conhecimento daqueles a quem se dirige.
Seja bem vindo, bem como todos os que partilharam tempos idos, o mesmo local de crescimento.
A todos os Carmelitas as minhas saudações, em especial à Associação de Antigos Alunos e também ao Nuno Gonçalves meu companheiro dos tempos no Seminário.
Eu chamo-me Manuel Gonçalves Oliveira (MG) baptizado pelo professor Ferreira nos tempos da Telescola no Seminário da Falperra.
No dia 27 de Junho estarei presente para matar saudades dos antigos companheiros.
Este ano vai estar muita malta, graças ao trabalho fantástico que o Nuno Gonçalves tem desenvolvido, está de parabéns.
Um abraço forte para todos e até ao dia 27.
Manuel Gonçalves Oliveira (MG)

12 Comments:

Anonymous Rosalino Durães said...

Ao MG os meus parabens.

já agora para que todos saibam quem és, diz mais de ti.

ano de entrada no seminário, donde és, pois, provalemente, ainda nos cruzamos.
a mim o professor Ferreira também de batizou de "aspor".

até dia 27

Rosalino Duraes
entrada em 1968

05 junho, 2009 17:40  
Anonymous domingos coelho said...

Hoje quero falar aos(meus) Amigos...

Os amigos que tenho são os melhores, que alguém pode ter...
Além disso, os amigos que tenho, têm muitos amigos, e, os dividem comigo...
Assim, o meu número de amigos aumenta sempre, já que ganho sempre amigos dos meus amigos...
Foi assim sempre...
Uns ganhei, há tempos...
E outros, são recentes...
E quem os deu não ficou sem eles, pois a amizade pode ser, sempre dividida, sem nunca diminuir ou enfraquecer...
Pelo contrário, quanto mais ela for dividida, mais, ela será aumentada...
E há vantagens na amizade: é uma das poucas coisas que não custam nada mas vale muito, embora não sejam vendáveis!
Entretanto, é preciso, oferecer um pouco mais a essas amizades...
As mais recentes, por exemplo, precisam de alguns cuidados...
Poucos, é bem verdade, que são indispensáveis...
É preciso mantê-los com um certo calor, cuidar, falar com eles...
com o tempo eles crescem, ficam fortes e suporttam,alguns solavancos...
Os mais antigos, mais sólidos, não exigem, muito não!
São como mudar plantas que, depois de enreizadas, parecem viver sem cuidados, porém não podem jamais, serem esquecidas...
É preciso, para as manter vivas...
Prezo, todas as amizades conquistadas, e reservo, sempre um cantinho "especial", para cada uma delas no meu peito...
E sempre que surge uma ocasião, não perco a oportunidade, de oferecer um amigo, a um outro amigo, da mesma forma, que eu ganhei...
E não adiantam, as despedidas...
De um amigo ninguém se livra fácilmente...
Amizade além de contagiosa, é incurável...

d/c

11 junho, 2009 22:14  
Anonymous Mario neiva said...

«Quanto mais ela for dividida, mais ela (a amizade) será aumentada»
Diz o D. Coelho.
Não podias apresentar melhor analogia com a epopeia da vida. De uma única célula primordial, resultante da fecundação do amor, se replica, em duplicação constante até aos biliões, a vida que nós somos.
A amizade é mesmo isso, D Coelho: o Homem multiplicado em encontro de milhões.
Sem exclusão de ninguém.
Até ao dia 27.

12 junho, 2009 21:05  
Anonymous jorge dias said...

Olá,

Confesso-vos que o meu silêncio não é ausência, obviamente, preocupação... para mim, um grupo como o nosso só pode crescer. Crescer o amor, ou esfumar-se como me pareceu induzido no encontro de Fátima, não nos corredores.
Infelizmente, nos últimos dias, a tragédia do avião da air france, chamou-me à realidade dos que se vão inultimente e à alegria de podermos continuar a disfrutar da vossa presença.
Manuel Gonçalves Oliveira uma estrela no firmamento à procura da nossa identidade carmelitana ao serviço dos outros com base na nossa contemplação profética. Que bom que apareceste "DEUS CONNOSCO". Fico com imensa vontade de te conhecer para me reencontrar em outros que também fui. Espero mesmo que neste encontro apareça a força do espírito para sermos contra todas as peias e açaimos... porque estas e estes nos deprimem, senão bipolarizam e anulam na mística da contemplação e força do espírito que sempre, sempre se deseja calar ou fingir que nem é... Como aprecio a afirmação deste MGO. Benvindo ao firmamento do espírito... e obrigado pelo teu sopro contemplativo e profético da congregação e do toque a reunir! Aleluia... faltava esta estrela neste espaço e julgo ter sido oportuna esta emergência...

Confesso-vos que na hora de publicar o meu comentário presenti que a nunance espiritual era demasiado evidente (não religiosa). Mas, caríssimo MGO, coloca a palavra imaginação em lugar de espírito e terás uma leitura mais adequada, se por ventura esse problema da espiritualidade for o teu. Um grande abraço.

16 junho, 2009 00:10  
Anonymous Mário Neiva said...

O Modelo Primitivo

Ontem, numa troca de impressões, ao telefone, com o Costa, fotógrafo de serviço dos aaa, veio à baila a necessidade do retorno, por parte da Igreja, ao que se julga ser a pureza da fé dos primeiros cristãos. O Costa avançou a ideia. E eu contradisse, afirmando que esse era o grande equívoco. Como estávamos ao telefone, adiamos essa conversa para outra altura, até porque o nosso contacto desse dia era apenas para confirmar que os meus dois irmãos e eu próprio estaríamos presentes no Sameiro, no dia 27. Para quem não sabe, três irmãos, três aa.
Decidi trazer o tema do «cristianismo primitivo» aqui para o blog e transmitir a todos o que quereria ter dito ao Costa, ao telefone. Até porque, como terão oportunidade de verificar, tem tudo a ver com o espírito da AAA e com a insistente proposta do Jorge Dias na conversão/adaptação da «espiritualidade carmelitana» à nossa vida presente, no mundo e em família «laica».
O título escolhido é deliberadamente ambíguo. Permite que se entenda como «original» ou como «rudimentar». E as duas coisas em simultâneo.
Fomos induzidos a pensar que os «primeiros cristãos» eram gente simples, de uma fraternidade inigualável, uma comunidade harmoniosa, enfim, o modelo perfeito daquilo que se esperava para a Humanidade. Não seria a antecipação da festa do paraíso, mas andaria por lá perto.
Esta ideia romântica tem sido destroçada pelos historiadores cristãos e biblistas eminentes nos últimos dois séculos, logo que deixou de pender sobre a cabeça dos estudiosos a terrível ameaça da excomunhão, da fogueira ou da forca, por atentado à fé.
E, afinal de contas, estes cristãos libertos do medo, limitam-se a fazer-nos ver nos «livros canónicos» as controvérsias tremendas que grassavam naquelas comunidades primeiras do cristianismo.
Não vou agora deter-me neste aspecto, mas a título de exemplo, sugiro a leitura, em Actos dos Apóstolos, do episódio da morte do casal Ananias e Safira, fulminados pelo Espírito Santo, que já naquela altura tinha as costas suficientemente largas para arcar com a responsabilidade de actos inqualificáveis, cometidos pelos homens em Seu nome. Neste caso, esses homens eram Pedro e um grupo às suas ordens justiceiras e santas.. E tudo, afinal, por causa de uns míseros tostões não declarados ..ao “fisco”!

18 junho, 2009 16:49  
Anonymous Mário Neiva said...

II parte

É relevante, nesta história, o facto de ela ser contada pelo mais apaziguador dos evangelistas, Lucas, que faz um esforço notável por nos transmitir a ideia de uma harmonia entre as comunidades primitivas cristãs, que estava bem longe de ser verdadeira.. Houve guerra aberta entre Paulo por um lado e Pedro Tiago e João, por outro. Estes mesmos que Paulo chegou a apelidar de «colunas da Igreja», para depois acrescentar, no auge de uma forte controvérsia (Carta aos Gálatas), que pouco lhe importava que eles fossem «lá o que fossem», «porque Deus não faz acepção de pessoas».
E também sabemos, pela leitura comparada dos textos do Novo Testamento, que S.Paulo ia sendo linchado, em plena Jerusalém, não pelos judeus que apedrejaram Tiago, o Irmão do Senhor, até à morte, mas por uma multidão furiosa de judeus e judeus cristãos, irmanados na revolta contra Paulo de Tarso, que pregava Jesus Cristo, não como um Messias para o Povo Eleito, mas o Enviado de Deus para toda a Humanidade. Numa palavra, São Paulo pregava a subversão completa dos ideais messiânicos judaicos, partilhados tanto pelas tais «colunas da Igreja» como pelos judeus tradicionais.
É uma história bem diferente da que ouvimos contar acerca dos primeiros cristãos. E não foi preciso recorrer aos chamados «evangelhos apócrifos», que acrescentam mais confusão que esclarecimento.
Logo aqui se vê que esta «comunidade primitiva» é mesmo primitiva e não será lá grande exemplo a seguir. Nem as comunidades de Tiago Pedro e João, nem as comunidades catequizadas por São Paulo. Com efeito, aquele que veio a tornar-se no grande paladino dessas comunidades cristãs, S.Paulo, apesar do «mandamento do amor», exortava os cristãos «a permanecerem na condição em que o Senhor os chamou». Se eram «senhores», escravos ou homens livres, assim deveriam manter-se, aguardando a «vinda do Senhor».
Ninguém de bom senso, no momento actual, avaliza uma tal pregação. No entanto,até ao século XIX vigorou a lei da escravatura. Em contrapartida, no presente, em todo o mundo, a escravatura é crime. Porque o “modelo” é outro, bem menos "primitivo".
Podemos concluir que, no que toca a direitos humanos, as comunidades cristãs primitivas, eram primitivas…Não são modelo para nós.

18 junho, 2009 16:55  
Anonymous Mário Neiva said...

III Parte

Mas o Amor? O Espírito do Amor, que lá estava presente em tantos testemunhos? Amor do próximo, num apelo repetido até à exaustão!
É inegável. É evidente. E essa mensagem perdurou pelos séculos e foi-se entranhando no CORPO e na ALMA da Humanidade. E, como alguém afirmava, não foi por acaso que a democracia nasceu nos países marcados pelo cristianismo. Estes mesmos países de matriz cristã são os PALADINOS DOS DIREITOS HUMANOS.
Então o cristianismo sempre é «o Modelo»?!
Seria, se o homem fosse só ESPIRITO!
Não é!!! E aqui é que reside o grande equívoco.
Mas antes de avançar, permitam-me que faça justiça ao meu querido Paulo de Tarso.
Quando ele apela aos cristãos para que permaneçam «na condição em que o Senhor os chamou», ele não estava a fazer a apologia de uma determinado organização da sociedade. A São Paulo pouco lhe interessava esta «vida na carne», transitória e na iminência de chegar ao fim, com a apoteótica vinda de Jesus Glorificado (antevisão reportada na transfiguração do Monte Tabor). Portanto, era para deixar estar como está, este “ corpo” desta sociedade terrena. Interessava era preparar o espírito, conservando a fé na ressurreição, não aquela «ao terceiro dia», acrescentada tardiamente ao Evangelho de São Marcos, o primeiro a ser escrito (como se pensa cada vez mais insistentemente) e que acaba a sua narrativa com a sepultura de Jesus, mas na ressurreição de toda a Humanidade, crentes e não crentes, porque todos irmanados em Jesus Cristo. Era este o Evangelho de São Paulo, que desvaloriza completamente a presente «vida na carne» para a morte, em favor de uma vida glorificada na ressurreição.
Acontece que a anunciada vinda iminente de Cristo Glorificado e consequente glorificação da humanidade, não se concretizou.
E aqui estamos nós, ao fim de vinte séculos, à procura de um «modelo» para o homem. E o pior de tudo, ou talvez não, é que ficamos sem “modelo” para imitar, reduzidos ao bondoso mandamento do amor.
Se fossemos só espírito, bastava-nos o enunciado do amor ao próximo, onde até cabe o romântico «ama e faz o quiseres». Mas nós somos também «corpo», a valer tanto como a “alma”. É verdade: paridade intrínseca. Se ofendemos um, ofendemos o outro. Se abandalhamos um, abandalhamos o outro.
Se morre um, morre o outro?
Assim parece. Mas se andamos há tanto tempo a tentar descobrir os segredos da vida, como haveríamos de conhecer desde já os mistérios que a morte nos esconde?
Servirá de consolo, para os crentes, o Evangelho da Ressurreição de São Paulo. E há dias, no funeral de uma parente da minha mulher, ouvi uma invocação de Nossa Senhora que desconhecia por completo e com a qual o pároco concluiu a cerimónia fúnebre, já no cemitério:
Nossa Senhora da Ressurreição, rogai por nós.

E como isto já está insuportavelmente longo, deixo para depois a ligação ao «retorno à espiritualidade carmelitana». Mas já poderão ver onde é que isso vai dar: Os antigos carmelitas não são modelo para ninguém. Esqueceram-se do “corpo”. Muitos não foram no “esquecimento” e a Ordem chegou ao que chegou: Nem a Reforma de Santa Teresa e São João da Cruz valeu. Mas Santa Teresa deixou-nos perceber, com o fenómeno extraordinário da «levitação», enquanto orava, que para o céu vai-se inteirinho….


.

18 junho, 2009 16:56  
Anonymous jorge dias said...

Ora este Mário... rendo-me ao que Deus, por ele, me diz.

Caro amigo, que eloquência! Que beleza, lindeza e pureza tem a fé que me serves.

Os antigos carmelitas não são modelo para ninguém...nem os dos actos dos apóstolos... mas é óbvio, caríssimo Costa.
Tu, Costa, és o protótipo e o paradigma da formiguinha trabalhadora sempre a tocar e a unir as pessoas pela fotografia e pelos corações... Parabéns amigo... por seres como és, contemplativo e pro-activo. Uma beleza de pessoa com o bem dos outros sempre no teu horizonte, mormente os aas carmelitas, muito mais que em Actos dos Apóstolos.
Diz o Mário:
"Esqueceram-se do “corpo”. Muitos não foram no “esquecimento” e a Ordem chegou ao que chegou: Nem a Reforma de Santa Teresa e São João da Cruz valeu. Mas Santa Teresa deixou-nos perceber, com o fenómeno extraordinário da «levitação», enquanto orava, que para o céu vai-se inteirinho…".

Levitação? Não me digas que era como pena de ave ou se a levitação foi só dos orgasmos? Até já li um romance onde exlicava como isso se fazia a mando da inquisição. Ponhamos a levitação de parte
e verguemo-nos à gravidade de Newton para todos ficarmos ao mesmo nível, isto é, do chão, onde nos movemos e somos por "ordem" do criador.

Ora, caro Mário, como assim? A menos que já estejamos no céu!
Com certeza...
Mas isto foi um "fait divers"...

Amigo, levaste-me aos píncaros da nossa espiritualidade. Se tivesses ficado na Ordem emparceiravas bem com Frei Bento Domingues. Os dois, uns senhores de saber e palavra. Além de que apontavas algum sentido naquele espaço... Mas és na mesma um senhor a escrever sobre a nossa fé e seus conteudos. E inspiras, provocas... Que delícia os teus comentários. Voltarei religiosa e espiritualmente a eles, por concordar, para apoiar e para me formar.

Absolutamente, caro Mário e tantos, senão todos os caríssimos aas carmelitas e outros amigos que por aqui andam. Oh como o Espírito impede e impele...

No mundo, nunca fomos tão e tanta boa nova. Palmas e aleluias...
Na espiritualidade nunca o mundo teve tão e tanta grande multidão. Na contemplação é avassaladora a multidão. Na minha abordagem, julgo que, por descrença, falta de auto-estima, pelo profetismo que aqui e ali escapa, nós os que acreditamos nas capacidades dos homens se amarem, não temos tido a abertura suficiente para aceitar a força do Espírito, dEle e do nosso, e afirmarmos mais pela nossa pro-actividade a boa nova de nos amarmos.

Parabéns Mário...

Não sei onde está, não sei donde virá,mas sei que está vindo e está absolutamente no meio de nós, não sei com que conteúdos, não sei quantos nem quem seremos... Sei que a verdadeira humanidade (cristandade) que está com os irmãos (supremo extase - de que certos orgasmos medievais apenas foram sinal sacramental) é hoje fermento e também o zénite do cristianismo e que,como tal, nunca ocorreu antes na história dos homens. Somos hoje uma galáxia de seres - gente, nas conquistas, nas leis, nos direitos e deveres como jamais viveram os homens... e, claro, no amor da boa nova. Repito, como jamais tempo algum viu. Êxtases, comtemplativos, hoje, fora de muros... como jamais houve e com muitos pro-activos, embora não nos lugares onde os antigos mendicantes exerciam o amor. Esses andam amortecidos... senão perdidos de todo. Veja-se a Igreja diocesana de Lisboa a seguir as peugadas do Nuno de Santa Maria enquanto a Ordem do Carmo (mendicante), sua herdeira, se desgasta a administrar os bens... ao que chegamos... eis a reforma necessária, voltar dar de comer a quem tem fome, como o Nuno de Santa Maria. OH Pe Geral, Oh paradigma da Ordem que te foste!... E dizem que não há vocações? Como pudera haver? Eis porque saímos... Aleluias de conversão ao amor, caríssimos...obrigado Costa e obrigado Mário.

20 junho, 2009 00:53  
Anonymous Mário neiva said...

Criando o «Modelo»...

«Somos hoje uma galáxia de seres - gente, nas conquistas, nas leis, nos direitos e deveres como jamais viveram os homens... e, claro, no amor da boa nova. Repito, como jamais tempo algum viu. Êxtases, comtemplativos, hoje, fora de muros...»
Com as tuas próprias palavras te retribuo o elogio imerecido e excessivo.
Tenho a certeza, Jorge, pelo testemunho desassombrado que vais deixando, que não te ficas pela espuma dos eventos. Queres sempre ir ao fundo das questões e para ti não existe outra "autoridade" que não seja a que fala em nome do Amor. Com todas as suas implicações. Custe o que custar, doa a quem doer.
Há muito que percebeste que o Amor não admite compromissos a não ser com o próprio Amor. Daí a loucura romântica do santo que parece ter desafiado a divindade: «Ama e faz o que quiseres».
Esta frase linda e lapidar e verdadeira atira para o caixote do lixo todo o emaranhado de leis criado para proteger ou condenar o «pecador».
AH, Paulo de Tarso, como te fartaste de pregar: «A Lei mata e o espirito vivifica»!
Como o Jorge te escutou e compreendeu!
Bem haja, amigo! (O Paulo e o Jorge)

22 junho, 2009 00:19  
Anonymous Mário Neiva said...

Parte IV

Ficamos com a impressão que nunca, como hoje, se falou tanto em «princípios» e «valores». Atenção, que os «princípios» têm de ater-se ao fundamento das coisas e não reduzir-se a simples conceitos, tradições ou criações, ligados a um tempo e a um lugar. Sobretudo temos de ter a lucidez suficiente para entender, de uma vez por todas, que nós não criamos o mundo, o universo, a realidade. Emergimos no mundo e estamos a descobri-lo e a crescer com ele. Para os mais ciosos do seu “nariz”, eu sei que é difícil aceitar que não somos um eu-individual-absoluto. Até parece que somos, mas aí vem o “corpo” e atrapalha tudo, fazendo-nos perceber que estamos ligados, irremediável e inegavelmente, ao universo, desde o nosso nascimento.
-Eu fáço de mim o que bem quero!
-Está bem, e depois? Dás «o peido mestre» e o mundo continua a sua história, carregando-te com aquilo que és e que fizeste!
!

22 junho, 2009 10:38  
Anonymous Mário neiva said...

(continuação)
Principio fundamental: Unidade do Ser Humano.
Enquanto que a mensagem do amor ao próximo atravessou os séculos intacta e sempre sublime e sublimada por uma multidão de gente, o corpo deste amor arrastou-se penosamente, tentando inventar a melhor forma de se conjugar com essa mensagem. Penosamente, porque havia que procurar alimento, abrigo e agasalho, segurança e ainda lutar contra pestes e cataclismos de toda a espécie. É a lei da vida que, tanto quanto sabemos, sempre ficou sujeita a estas vicissitudes, desde que desabrochou, há muitos milhões de anos, nas primeiras células com a ainda misteriosa capacidade para se auto reproduzirem.
Quando chega a Plenitude dos Tempos, que é a consciência dos homens, e emerge o Amor, ora é a estrutura basilar constituída por biliões de células, cada uma delas prenhe da nossa história individual, que não consegue acompanhar as subtilezas da alma, ora é a “história” do conteúdo das nossas células, oculta mas real, que condiciona a alma.
E não houve como evitar: o corpo e a mente travaram uma luta permanente para vencerem os anos sem se danarem numa luta suicida. A história ensina-nos como isso quase nunca foi conseguido. O pensamento e a fé tentaram afirmá-las em separado, como se de duas entidades se tratasse e como se o destino de um não fosse o destino da outra. Guerra suicida e fútil, em que alinharam religiões e filosofias várias.
Até que um dia, até que alguém, talvez não sabendo muito bem o que pregava, nos veio falar da Ressurreição da Carne. Seria, finalmente, a proclamação da harmonização definitiva do corpo e do seu espírito. Este anúncio parecia tão louco e paradoxal que logo se tentou regressar à doutrina fácil: um destino para a estrutura celular, outra para a luz brilhante e intemporal do espírito humano emergente. Teimosa que nem uma mula velha, a cristandade agarrou-se à pérola da unidade do ser humano e converteu a simples doutrina inicial em dogma fundamental, para que não houvesse mais a tentação de regressar à heresia do nosso destino separado.
Nunca, como hoje, a cristandade pôde encher o peito e dizer-nos: nós estamos no bom caminho!
Realmente, a ciência cada vez mais exigente na pesquisa e também na honestidade intelectual, vai-nos demonstrando a interdependência e interactividade impressionante entre a estrutura celular do corpo e a alma que dela misteriosamente emergiu. Um não funciona sem o outro. O «mistério» estava mesmo a entrar-nos pelos olhos dentro e nós não queríamos enxergá-lo. Pensou-se, e ainda se pensa em muito lado, que a morte nos separa e divide em duas entidades, definitivamente. E se, antes, à filosofia e à ciência tal facto parecia evidente, agora já nem tanto, embora a ciência e a filosofia não consigam ter resposta para uma multidão de perguntas.
Curiosamente, e este facto deixa cientistas e filósofos verdadeiramente atrapalhados, não está em causa a «eternidade» da estrutura mais basilar do homem, o seu «corpo», uma realidade que se organiza, primeiro, e se desmorona, depois. Para estes homens honestos e sábios é ponto assente que nem um átomo ou partícula de átomo de nós se perde, evaporando-se em “nada”. O problema reside em saber a que se “agarra”, na morte, a mais extraordinária emergência da vida: a alma humana. Pois parece pouco lógico que o prodígio que é a consciência humana se anule, assim, sem mais, como se um átomo fosse mais consistente que um pensamento!
No meio desta sadia e lúcida incerteza, a cristandade agarra-se à fé na Ressurreição da Carne. E, como atrás referi, esta fé, loucura de Paulo de Tarso, tem, entre a cristandade católica, uma nova invocação que o terá deixado encantado com a imaginação destes seus fiéis discípulos:
Nossa Senhora da Ressurreição, Rogai por nós!

22 junho, 2009 10:41  
Anonymous Mário neiva said...

Parte V
Existência de Deus, sem Ressurreição da Carne, para que nos serve?

Quase a concluir a intervenção anterior eu afirmei que tem pouca lógica um «átomo» ser mais consistente que um pensamento», como quem diz, o corpo ser mais consistente que o espírito. Podemos ver, apalpar, cheirar o corpo morto e não podemos comunicar com a vida que ali nos interpelava até há poucos minutos. Onde está o pensamento brilhante, a ternura e amor que passavam numa palavra ou num gesto? Foi-se a alma e em breve o corpo ficará reduzido a pó, retornando à energia indiferenciada que um dia se organizou e fez surgir a vida. O corpo subsiste nos seus elementos base, agora já sem a organização prodigiosa que levou biliões de anos a ser engendrada para, finalmente, dar à luz o espírito, a mente, alma. Na hora da morte, desta sublime realidade, nem sinal. Desapareceu juntamente com «organização» que a gerava e suportava.
É com esta realidade tremenda que somos confrontados na morte. Eu estou aqui, olhando as minhas mãos a digitar o teclado, submissas e obedientes à minha mente, que me parece mil vezes mais verdadeira que os tecidos, as células e os átomos de que são feitas estas minhas mãos. E no entanto, delas ficará, inequivocamente, um rasto para a eternidade, em “pó”que seja…E de mim, de nós? Não vale referir os filhos, a criação artística, porque não serão mais que a evocação poética d’ «aqueles que por feitos valorosos se vão da lei da morte libertando»; apenas memórias de mim, de nós. EU MESMO, terei ficado para trás e desaparecido «entre as brumas da memória».
Adormecendo sobre este pensamento o homem sentirá que o seu destino é mais triste que o de um calhau. Paulo de Tarso não fala de pedregulho, mas vai dar no mesmo: «Se temos esperança em Cristo tão-somente para esta vida, somos os mais dignos de compaixão de todos os homens» (I Cor 15,19). «Se os mortos não ressuscitam comamos e bebamos que amanhã morreremos» (I Cor 15, 32). «Se Cristo não Ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé» (I Cor 15, 14). Para Paulo de Tarso era fundamental a fé na Ressurreição de Cristo, como garante da nossa própria sobrevivência! A sua pregação andou sempre à volta deste tema. Porque ele estava plenamente consciente deste facto: Se nós não participarmos do banquete da vida perene, para que serve a vida presente, efémera e dolorosa?
E ainda: que nos adianta que Deus exista ou deixe de existir se, no dizer de Saramago, «acaba-se a vida, acaba-se a escrita» e a morte é o fim da linha?

26 junho, 2009 08:18  

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